sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Relato de uma morte anunciada...


Enfermaria no corredor do hospital
Hoje, o blog postou reportagem do Jornal de Brasília, informando do falecimento do senhor José Arlindo de Macedo, 58 anos, cunhado do conselheiro do TCDF, Manoel Andrade, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), segundo parentes, por omissão médica.
À tarde, a sua filha Adriana Macedo comentou a matéria nos dando um penoso e emocionante relato do descaso no atendimento ao seu pai em todos os hospitais que passou. Foram custosos 5 dias de sofrimentos e de angústias. A família do paciente se sentiu impotente diante do caos em que se encontra a saúde pública no Distrito Federal, bem diferente das propagandas enganosas do governo petista, alardeadas no rádio e na televisão. Esse é um relato de uma morte anuciada, entre tantas que ocorrem no dia a dia nos “mocambos” chamados de hospitais.
O blog aproveita a ocasião para ofertar os pêsames aos familiares de José Arlindo Macedo e as demais pessoas, que não puderam contar com um serviço de saúde de qualidade, prometido exaustivamente durante a campanha de 2010, pelo então candidato e hoje governador Agnelo Queiroz.
Sou a Adriana, filha de José Arlindo.
MEU PAI FICOU 19 HORAS VOMITANDO SANGUE COAGULADO SEM ASSISTÊNCIA DE MÉDICO, DURANTE ESTAS HORAS DE AGONIA, PROCUREI VÁRIAS ENFERMEIRAS SEM CONSEGUIR A PRESENÇA DE MÉDICO. Nas 19 horas de agonia que antecederam sua morte, os vômitos de sangue, ELE SOFREU 4 INJEÇÕES DE PLASIL, DIPIRONA E COLOCARAM SORO PORQUE INSISTI MUITO POR REMÉDIO PARA DOR. Desconfio que nem morfina eles injetaram porque eles não me comunicaram do estado de saúde dele de verdade. Falavam em metástase, mas davam esperança que era curável.
Há duas semanas que tentamos um atendimento adequado ao meu pai na Rede Pública de Saúde do DF: UPA (4x), Posto de Saúde de Samambaia, HRSAM, HRT (1 vez no dia 26/7, 30 de julho e entrada novamente em 31 de julho), HBase. Além disso, temos receituários que constam que há mais tempo que meu pai já tentava atendimento para diagnosticar o que causava as fortes dores falta de apetite e dificuldade de andar.
Ele estava desde sábado (30 de julho) nos Hospitais - HRT. No total são 5 dias de "internação" entre HBase e HRT e não foi avaliado e diagnosticado nada. Eram apenas suposições, sem biopsias e durante os 4 dias no HRT ele não sofreu nenhum exame. Só foram realizados exames no HRT de pressão, glicemia e exame de sangue sob insistência contínuas da família. O exame de radiografia feito no HBase no dia 30 de julho que foi extraviado pela equipe do HRT (é o único exame de radiografia). Conseguimos recuperar porque tinha cópia no computador do HBase.
Uma hora e meia antes de ele morrer, o médico foi até ele e fez a consulta e falou que faria endoscopia nele para ver o motivo de ele vomitar sangue a cada 2 minutos durante 19 horas. Também aproveitaria a cirurgia para fazer a biopsia na coluna. Uns 10 minutos antes de ele morrer, comunicamos ao médico que ele estava com falta de ar e suando muito depois da aplicação do dipirona na veia. O médico disse que era só "um pouco de falta de ar" e saiu. Passaram 10 minutos, meu pai começou a falecer e eu gritei no hospital para pedir socorro, ele foi levado para uma sala para reanimação, mas depois de 4 minutos tive a notícia do falecimento.
No dia 3 de agosto, data da sua morte, aproximadamente 10 horas, novamente eu comuniquei ao médico sobre o estado gravíssimo dele e perguntei se o caso dele era sem esperanças para eu comunicar o restante da família em SP. A família não teve uma posição formal da situação de saúde do paciente enquanto ele estava vivo e não foi alertada da fase "terminal" , nós tinhamos comprado até agua e sucos com a esperança de vida um dia antes de ele morrer. Mais uma vez, durante as 19 horas entre os dias 2 e 3 de agosto, eu comuniquei as enfermeiras da situação de dor, sem comer, maca inapropriada, mas elas diziam para eu aguardar o dia seguinte para o médico avaliar.
Nenhum dos médicos sabem o que ele tinha por falta de exames e diagnóstico preciso, eram suposições sem algo concreto como exames, sempre falavam que iriam realizar e que o pedido foi feito, desconfiavam de cancer de próstrata, mas não foi realizado o exame. Suponho que ele morreu sem morfina por causa da indefinição se realmente era metastase. A única coisa que aplicavam era dipirona, tilex via oral (que ele não tinha condições de engolir) e plasil para passar os vômitos (que não teve efeito já que duraram 19 horas ele vomitava quase a cada minuto). Eu fiquei do lado dele durante estas 19 horas em pé com um balde que eu trouxe de casa, para não usar o balde de lixo do hospital (sugerido pela enfermeira Kamila).
Quando ele morreu, para darem uma explicação que foi cobrada pela família, falaram que era metástase, que tinha probabilidade de câncer na próstrata, só que no óbito está metástase na coluna, insuficiência respiratória aguda e neoplasia primária indefinida. Nem eles tem noção das desculpas que se desencontram.
Ele morreu sem dignidade. Se os médicos sabiam do estado dele, por que deixaram em um corredor com idosos enfartados, criança e na presença da minha mãe que é hipertensa, todos ficaram aflitos. Eu e minha mãe vimos ele morrer sem atendimento, sem sonda alimentar, sem lavagem, sem nenhum procedimento básico para quem não comia e defecava há vários dias. Colocaram soro e sonda urinária porque fazíamos uma pressão exaustiva, em todos os procedimentos eram nós que "prescrevíamos". Ele morreu no lado do lixo, da copa e de banheiros sujos. Os acompanhantes ficam em pé durante horas ou sentados em cadeiras que não tem lugar para permanecer lá.
Naquele lugar há pessoas "internadas" no chão do hospital. Depois da morte dele, solicitei as cópias do prontuário dele, eles me negaram. Falaram que só leio, acionando a Justiça.
Meu pai não volta, mas o cidadão de Brasília tem que ter serviço público de saúde com o básico, parece uma guerra.
O hospital tem falta de espaço, higiene básica, pessoal,material, somados a negligência.
SAÚDE DE BRASÍLIA ESTÁ UM CAOS, FALIDO SEM MATERIAL, PROFISSIONAIS E COMPROMISSO COM A SAÚDE DAS PESSOAS. EU COMO FILHA E CIDADÃ PERGUNTO: CADÊ O DINHEIRO ENVIADO PELA UNIÃO? UMA CIDADE TÃO RICA COMO BRASÍLIA FICA ATRÁS NOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE DE ESTADOS QUE NÃO TEM A VANTAGEM DE RECEBEREM DINHEIRIO DA UNIÃO.


2 Comente esta matéria:

Drika Biblio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Drika Biblio disse...

Eu sou filha do José Arlindo. Minha intenção é divulgar o caos na Saúde do DF e convencer a sociedade brasiliense que a saúde de Brasília está aquem dos padrões de alguns estados que não tem a liberação do dinheiro da União (este é um privilégio único do DF). O serviço público de saúde no Brasil deixa desejar, mas em Brasília é uma calamidade surreal. Minha tia teve câncer e fez tratamento em SP na rede pública. Hoje, ela tem 82 anos e faz compras nas feiras livres de SP sozinha e bem disposta. Aqui em Brasília, após uma peregrinação de meses em UPA, Hospitais e Posto de Saúde, meu pai aos 58 anos foi enterrado no Campo da Esperança. A morte é a certeza da vida, mas desrespeito e negligência são sempre abomináveis em qualquer instituição pública de saúde.

Será que existe gestão, projetos, administração, metas e diretrizes na Secretaria de Saúde do DF? Ou colocam profissionais em um determinado lugar sem estrutura com materiais insuficientes, com pessoas doentes amontoadas em corredores e aí é só o "deixe acontecer" e "cada um com sua sorte ou morte". Eu sou testemunha viva que não há gestão e administração na Saúde.
Que outros casos não aconteçam: eu vislumbro isso!

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