CÁLICE VERMELHO

“Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada, prá a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa”

Esse é um trecho da música Cálice de Chico Buarque, que acabou por se transformar no hino pela liberdade de expressão e contra a censura, durante o período negro da ditadura militar. Hoje, o governo petista quer impor o silêncio; Deseja calar as vozes descontentes e comprar a consiência das pessoas; Tenta abafar as denúncias de corrupção e falcatruas, que pesam sobre a adminsitração do GDF. O governador Agnelo Queiroz procura esconder-se de seu passado na ANVISA e no Ministério do Esporte. Para isso, PT e Agnelo se utilizam da desfaçatez e da verba publicitária de governo para atacar os seus opositores.

O caderno Cidades do jornal Correio Braziliense, do último domingo (31.07.2011) trouxe reportagem, assinada pela jornalista Ana Maria Campos, sob o título de “Carimbo político em recibos sociais”. A matéria causa  espanto e desconfiança.  Tem alvo certo. Foi publicada por encomenda. Não tem porque se preocupar e nem mesmo perder tempo em analisar o  conteúdo ali exposto, pois carece de verossimilhança.  O que causa preocupação mesmo é a baixeza e a vileza que os companheiros petistas, no Poder, podem fazer para destruir quem os atrapalhe.  

Justifica-se tal desconfiança pelo fato de se conhecer o modus operandi do PT, e sua atual relação com a imprensa. É imperioso contextualizar o episódio de modo a entender o que de fato está por traz da reportagem, aparentemente de um escândalo político, envolvendo uma deputada da oposição.

Eliana Pedrosa: uma vítima
do cálice vermelho

Considerada uma deputada atuante, Eliana Pedrosa tornou-se um alvo, em razão de sua oposição  e liderança política que exerce na Câmara Legislativa. A parlamentar corre um grande risco político de sofrer mais “golpes-baixos”, ou  “escândalos montados”. O PT teme perder a sua hegemonia política e usa de expedientes sórdidos e inescrupulosos para pemanecer à frente do GDF.

O PT, desde o seu nascedouro, tem a idéia fixa e programática de se eternizar no comando de qualquer instituição.Assim o fez com os sindicatos sob os seus domínios, bem como agora com o GDF.

Os petistas  tiveram essa chance no GDF, em 1995/1999, no governo do professor e hoje Senador Cristovam Buarque. Mas no momento da reeleição, perderam. Muito se sabe que a arrogância e a inexperiência administrativa de seus dirigentes não superaram o poder das urnas. Choraram; lamentaram; ficaram desolados e incrédulos pela traição dos trabalhadores que diziam representar.

É óbvio que para o PT novamente alcançar o poder perdido contou com fatores alheios e externos à ação de seus dirigentes aqui do DF.  Apesar de não ter se empenhado muito na campanha nacional, o PT/DF beneficiou-se da popularidade do governo Lula e aproveitou-se dos escândalos envolvendo Roriz e Arruda, além  do caos político estabelecido pela recém aprovada lei da ficha limpa, que muito prejudicou a candidatura de Roriz.

Praticamente sem adversários, já nos minutos finais da sucessão do GDF, o PT ressurgiu triunfantemente prometendo “consertar” o “caos” e romper com a “herança maldita”, deixados por uma tal inventada “extrema-direita”. Usou da confiança da maioria do eleitorado. Tomou posse do Palácio do Buriti, elevando o neo-petista Agnelo Queiroz à condição máxima de mandatário do Distrito Federal.

Mas para a tristeza dos eleitores, após sete meses da gestão petista à frente do GDF, vive-se um terror e um desprezo governamental nunca antes visto na história do Distrito Federal. Nem mesmo nos tempos da ditadura militar.

Aliás, falando em ditadura militar, os métodos petistas de hoje assemelham-se em muito aos da ditadura. Porém, os atos dos militares já eram previsíveis. A ordem petista é utilizar-se dos mesmos métodos de que foi vítima no período negro pós 64, sobretutdo quando se trata da manipulação dos meios de comunicação. Entretanto, há uma diferença preocupante: Sabia-se das intenções dos militares. Eles não usavam subterfúgios e nem máscaras. As suas táticas e os seus propósitos eram conhecidos. Não havia surpresa.

No governo petista é diferente. As reais intenções de seus dirigentes estão sob a máscara de um falso discurso progressista e democrático. Estão, elas, escondidas num passado de lutas em defesa da moralidade pública e de serviços de qualidade à população. Mas os compromissos de governo já não se baseiam  nessas lutas e muito menos nesse passado.



Agnelo Queiroz: olhar cabisbaixo e suas intenções



Na verdade, as reais intenções petistas estão encravadas no olhar cabisbaixo do governador Agnelo Queiroz, que não consegue encarar a retina de seus interlocutores, e nas reuniões secretas de um pequeno grupo vermelho, regadas a whisky, e paralelas às instâncias do partido, onde se decidem contratos, distratos, mesadas, nomeações, exonerações, tretas e mutretas, bem como a divisão do bolo da verba publicitária do governo às mídias jornalísticas.

Engana-se aquele que pensa que o PT da oposição no passado é o mesmo PT do governo atual. Os atuais dirigentes petistas acreditam que só  o velho discurso oposicionista (sem as respectivas ações)  seja suficiente para que todos deem créditos às suas palavras vazias e dissonantes de projetos concretos de governabilidade. O marketing governamental é veiculado na grande mídia, mas quem precisa de serviços públicos sabe que eles não existem, são apenas imaginários. O perigo, sem sombra de dúvida está na grande mídia e no marketing governamental que, hoje, o GDF imprime.

Como regra geral, os governos usam as mídias jornalísticas para  auto-promoção e propagandas das realizações governamentais. Os petistas não se fizeram imunes a essa prática, antes por eles condenada. Os petistas não só incorporaram tal prática como a remodelaram, objetivando astuciosamente usar como armas contra seus opositores.

A grande imprensa sob o controle petista

Para controlar, o chamado Quarto Poder, que é a imprensa,  o governo do PT inovou ao dividir a cota publicitária oficial entre os grandes veículos de comunicação. Diante dessa nova tática, a grande mídia é cada vez mais dócil com o governo. As matérias e reportagens voltadas para a área política estão condicionadas à censura da cúpula buritiana. Muitas das quais saem diretas do gabinete do governador, que ordena a publicação, mediante chantagem permanente de corte de verba.

Em 2009, a imprensa, muito bem paga pelo GDF, demorou noticiar fatos que comprometessem o governador José Roberto Arruda, após a deflagração da Operação Caixa de Pandora. Com raras exceções, a imprensa, à época, passava aos seus leitores que o problema era localizado e portanto não atingiria diretamente o governador. Arruda se valeu disso por alguns dias.

O governo Agnelo, agora valendo-se do mesmo subterfúgio, tenta conter a onda de denúncias contrárias à sua pessoa e ao seu governo. Lamentavelmente, a população de Brasília está a mercê da propaganda oficial do governo petista, cujo males não vem a público.

No entanto, o governador esqueceu dos  blogs e mídias independentes, que muitos dos quais tem resistido ao assédio governamental para comprá-los com verbas publicitárias. Na verdade, o silêncio é a mercadoria a ser adquirida.

A velocidade da contra-informação governamental na internet, sobretudo através dos blogs e twitters, tem surpreendido os integrantes do governo petista. De fato, não contavam com os “neo-pasquins” em formato eletrônico.

Blogs: informação e sob pressão

Para tentar conter os escritos contrários, o governo petista tenta  cooptar jornalistas e donos desses blogs, numa tentativa clara de frear e de calar aqueles que enxergam além de um “inocente” ou mesmo de um “inofensivo”  Novo Caminho. Ocorrendo resistência, usa do expediente da desqualificação e da intimidação dos profissionais jornalistas que insistem na linha da independência editorial e da liberdade de imprensa.  Um blogueiro e jornalista, há bem pouco tempo, foi vítima de intimidação numa matéria, pra lá de suspeita, publicada no Jornal de Brasília. O próprio deputado Vigilante saiu do seu propagado “espírito democrático” para intimidar este blog (Brasiliaemoff) com uma possível investigação policial.

Hoje, quem não se inteira da política brasiliense pelos blogs está fadado a ser um desinformado sobre o que de fato está ocorrendo com o governo do DF, não sabendo avaliar com imparcialidade as suas ações e projetos. Também não ficará a par das denúncias que pesam contra o governador e seus companheiros. A grande impresa se cala descaradamente.

Nada foi noticiado, além da revista Veja e dos blogs, sobre a identidade do “chantagista” Daniel Almeida Tavares, que diz ter provas concretas contra o governador. Também, os principais jornais da cidade não comentaram uma linha sequer a respeito do bloqueio de bens do governador, determinado pela Justiça Federal. Nenhuma denúncia que possa comprometer o governo tem autorização para sair sem a prévia consulta da cúpula palaciana. Mas, isso nem sempre é possível, uma vez que a imprensa também tem seus interesses a defender.

Em abril passado, o Jornal de Brasília cometeu um deslize, que deve ter deixado o governador enfurecido. O empresário de postos de combustíveis, Marcos Lombardi, o Marcola, usou as páginas de seu periódico para atacar o deputado Chico Vigilante (PT) por este ter recebido doação de campanha da empresa “fantasma” M Brasil. A série de reportagens sobre o caso perdurou por uma semana, sem que nela fosse mencionado que o governador também foi beneficiário de 300 mil reais da empresa. Marcola queria defender o seu comércio de combustível contra o projeto em favor de postos nos supermercados, de autoria do deputado.

O fato é que o PT não tolera oposição nem a própria alternância do poder, que é característica peculiar da democracia. Por ele, o Brasil já estaria sob a égide de uma mordaça aos seus opositores, bem ao estilo de Chaves, o Chapolim venezuelano e de Armadinejad dos Aiatolás iranianos.