M Brasil, que doou R$ 600 mil para campanhas políticas, recebeu R$ 13 milhões de entidade vinculada ao Ministério da Agricultura
Detalhes de um esquema nacional amparado por uma engenharia financeira supostamente fraudulenta poderão complicar as vidas de figuras políticas importantes no cenário do Distrito Federal e de pelo menos quatro estados. A empresa M Brasil Empreendimentos, Marketing e Negócios Ltda., que tem como sócios uma dupla de laranjas, captou dezenas de milhões de reais no mercado financeiro. Deste valor, aproximadamente R$ 13,100 milhões (treze milhões e cem mil reais) vieram dos cofres de um fundo de pensão que pertence a uma entidade vinculada ao Ministério da Agricultura. A fortuna partiu do Instituto Conab de Seguridade Social (Cibrius), dos funcionários da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Parte da verba pode ter servido para dar fôlego a campanhas políticas, tendo o deputado distrital Chico Vigilante (PT) – que recebeu R$ 100 mil da M Brasil, no ano passado, como doação de campanha – como um dos beneficiados. O distrital declarou o recebimento em sua prestação de contas. O esquema suspeito começou ainda em 2008, como publicou o Jornal de Brasília nas reportagens da série Lavanderia Carioca, veiculadas desde domingo.
Uma rede de farmácias do Rio de Janeiro afirmou à reportagem que comprou a M Brasil por apenas R$ 1 mil dos laranjas Marcelo Abdon Gondim, sargento do Corpo de Bombeiros da Bahia, e Leandro Santos Reis, funcionário de uma distribuidora de gás. Os dois seriam amigos de Jair Marchesini, ex-suplente de deputado federal pelo PDT.
TRÊS ANOS SEM MOVIMENTAÇÃO
De acordo com informações apuradas pela reportagem, a empresa M Brasil não movimentou sequer um real entre os anos de 2005 e 2008. No entanto, a empresa lançou mais de R$ 100 milhões em Cédulas de Crédito Imobiliário (CCIs), via BM&F Bovespa.
O Cibrius entra em cena em 2009.
Segundo a prestação de contas feita aos associados por meio do jornal informativo Cibrius Notícias, publicado pelo próprio fundo de pensão, o primeiro investimento aparece em novembro de 2009, no valor de R$ 7.054.337,39 – o que correspondia a 1,62% das aplicações da carteira de renda fixa.
O título é contabilizado em valor e percentual muito próximos na prestação de contas de dezembro de 2009, respectivamente de R$ 7.045.390,98 e 1,60%. Mas, em abril de 2010, a aplicação nas CCIs da M Brasil sobe para R$ 13.175.941,26, atingindo 2,85% da carteira de renda fixa. Na mais recente prestação de contas aos associados do Cibrius, datada de fevereiro deste ano, os papéis estão cotados a R$ 13.086.377,79, com participação de 2,53% na carteira de renda fixa. A direção do Cibrius foi procurada pela reportagem mas não retornou as ligações.
Ficam as perguntas:
1) Como a empresa M Brasil – que é alvo de processo de execução por falta de pagamentos de aluguéis em Belo Horizonte (MG), no valor de aproximadamente R$ 21 mil – con - segue crédito para colocar R$ 100 milhões de cédulas de crédito imobiliário na bolsa de valores?
2) Como um fundo de pensão governamental compra R$ 13,1 milhões de debêntures de uma empresa que está sendo executada?
3) Como uma empresa que deve R$ 21 mil faz doações de R$ 600 mil para campanhas eleitorais?
4) O deputado Chico Vigilante afirma que suas contas foram aprovadas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas qual a origem do dinheiro usado pela M Brasil para financiar a campanha do deputado e de outros políticos?
5) Os dividendos da cédula de crédito imobiliário comprada pelo fundo de pensão, em 2009, já foram pagos? Principalmente pelo fato de os juros serem cobrados anualmente.
Fonte: Jornal de Brasília
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