A revista Veja, desta semana, traz, em uma de suas páginas, uma intrigante reportagem envolvendo o governador do Distrito Federal. A matéria supõe ter encontrado a origem dos boatos e chantagens que tanto pertubam Agnelo Queiroz desde a sua posse, em janeiro passado. Trata-se de Daniel Almeida Tavares, que foi assessor, entre 2005 e 2009, da empresa de produtos farmacêuticos União Química. Ao ler o conteúdo do semanário, faz míster analisá-lo dentro de um contexto geral e histórico, relembrando a trajetória do médico e do político Agnelo Queiroz. A seguir a íntegra da matéria:
Alvo constantes de boatos criminosos, o governador de Brasília, o petista Agnelo Queiroz, tem a oportunidade de identificar e punir seus detratores
Desde que os devastadores vídeos da Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2009, escancararam o impressionante esquema de desvio de dinheiro público e pagamento de propina em Brasília, os políticos da capital vivem em um estado permanente de paranóia. São recorrentes os boatos sobre a existência de imagens em que parlamentares e membros do governo apareceriam se locupletando de dinheiro sujo.
Desde que os devastadores vídeos da Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2009, escancararam o impressionante esquema de desvio de dinheiro público e pagamento de propina em Brasília, os políticos da capital vivem em um estado permanente de paranóia. São recorrentes os boatos sobre a existência de imagens em que parlamentares e membros do governo apareceriam se locupletando de dinheiro sujo.
O atual governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, é alvo permanente desses rumores. Desde os primeiros dias de seu mandato, adversários espalham a notícia de que Agnelo foi pilhado caindo em tentação. Nunca surgiu uma evidência concreta de que esses vídeos de fato existam. Na semana passada, porém, VEJA identificou um homem que pode estar na origem dos boatos – ou provar que eles são definitivamente verdadeiros.
Entre 2005 e 2009, Daniel Almeida Tavares foi funcionário de uma das maiores empresas farmacêuticas do país, a União Química. Entre as diversas tarefas que ele executava como representante do laboratório em Brasília, havia uma especial: em entrevista a VEJA, ele contou que era o encarregado de pagar propina a altos funcionários do Ministério da Saúde. E diz que um de seus principais clientes era Agnelo Queiroz, à época diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Em três encontros com a reportagem, Daniel fez revelações estarrecedoras. Contou que levava pessoalmente pastas de dinheiro ao gabinete de Agnelo. Em troca, os interesses da indústria junto à agência, responsável por emitir as licenças necessárias para produção e venda de produtos farmacêuticos, recebiam prioridade. As acusações, segundo ele, poderiam ser comprovadas por uma gravação em vídeo de um pagamento de 40 000 reais em espécie ao petista. “Também tenho o comprovante de uma transferência de 10 000 reais da minha conta para a conta pessoal dele.” Depois de enumerar as provas que teria amealhado durante os anos em foi o “homem da mala” do laboratório, Daniel procurou um grupo de Brasília famoso pela expertise em chantagear políticos. Depois disso, o rapaz desapareceu – ao mesmo tempo em que ressurgiram com força os boatos sobre a existência de um vídeo que incriminava o governador.
Na semana passada, Daniel disse que desistiu de exibir as provas depois de ter sido ameaçado por emissários do laboratório, com o qual litiga sobre uma dívida trabalhista. A União Química confirma que o rapaz ocupou o cargo de assessor da diretoria até 2009, mas nega ter realizado qualquer pagamento de propina. Agnelo admite ter se reunido com Daniel quando foi diretor da Anvisa, “assim como teve reuniões com diversas pessoas do setor químico”. O governador, enfim, tem agora a chance de pôr fim aos boatos e colocar os chantagistas na cadeia.
GUSTAVO RIBEIRO – Revista Veja”
IMPUNIDADE ZERO
A novela “Insensato Coração”, exibida no horário das 21 horas da Rede Globo, conta, em uma de suas inúmeras tramas, a vida do banqueiro inescrupuloso Horácio Cortez, vivido pelo ator Herson Capri. Dono de um banco de investimentos, Cortez está atrás das grades em razão de ter sido flagrado, em vídeo, pagando suborno a uma autoridade pública de Brasília para que fizesse vistas grossas aos seus negócios fraudulentos contra o Sistema Financeiro Nacional. O vídeo, feito por um de seus assessores de banco, foi por muito tempo uma ameaça ao banqueiro. Temendo a divulgação do vídeo, o banqueiro tentou destruir as provas que o incriminavam de todas as formas. Não conseguiu e as imagens foram parar num Blog intitulado “Impunidade Zero”, gerando a expedição de mandado de prisão preventiva em seu desfavor.
Segundo a matéria da revista Veja, o governador Agnelo Queiroz vem sofrendo de constantes boatos criminosos contra a sua pessoa, revelando a existência de um suposto vídeo em mãos do tal assessor da União Química. O vídeo teria sido gravado no ato da entrega de 40 mil reais a título de favores à empresa, quando Agnelo estava à frente da ANVISA. A partir daí,não é exagero concluir que o governador esteja vivendo o mesmo calvário do banqueiro fictício da novela. O conteúdo da revista não deixa de ser um furo jornalístico, embora não tenha apresentado maiores detalhes sobre as provas que o assessor diz possuir.
Agnelo e Magela: fogo amigo |
FOGO AMIGO
Agnelo Queiroz, desde que decidiu candidatar-se ao cargo de governador do Distito Federal, se tornou alvo de inúmeras denúncias do gênero. Até mesmo vinda de seus próprios companheiros de partido, quando disputava a sua indicação no PT. Em março de 2010, às vésperas das prévias do partido, Agnelo foi surpreendido por uma matéria da revista Época, que questionava a compra de uma luxuosa mansão no Lago Sul. A reportagem insinuava que Agnelo não teria renda suficiente para adquirir o patrimônio. Credita-se que a denúncia partiu do seu adversário direto nas prévias, o deputado federal e hoje secretário de Habitação, Geraldo Magela, um verdadeiro “fogo amigo”, vindo das entranhas vermelhas. Durante a campanha eleitoral, Agnelo teve que se explicar diariamente das denúncias de desvio de dinheiro do projeto Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes, do qual foi ministro no primeiro mandato do presidente Lula.
Agnelo em viagem à Argentina: Bolivar e Cláudio Monteiro |
TORRES GÊMEAS
No início do ano, surgiram novos boatos de que o governador fora flagrado recebendo “duas torres gêmeas” de dinheiro e que suposto vídeo com as imagens seria divulgado em abril passado, caso o governador não cumprisse acordos sobre o famigerado DFTrans. Seria alarme falso? Não se sabe. Porém, Agnelo, a partir da notícia, tomou atitudes suspeitas. Viajou com Cláudio Monteiro e seu “aspone e Chalaça” Bolivar Rocha, inesperadamente, para a Argentina, justificando que iria visitar estádios de futebol. Não colou. Descobriu-se mais tarde que a viagem não teve caráter oficial. Ficou a dúvida: o que de fato Agnelo e seus inseparáveis colaboradores teriam ido fazer de fato na Argentina, dois dias após a suposta divulgação do vídeo? Outro negócio suspeito envolve justamente o DFTrans. O governo, diante de uma suposta greve dos rodoviários se viu obrigado a subsidiar os empresários de transporte coletivo da capital com a quantia mensal de 9 milhões de reais. O dinheiro cobriria as despesas dos empresários com o Passe Livre, lei de autoria do deputado e secretário de Governo Paulo Tadeu. Será que o governador teria cedido às pressões de seus chantagistas, intitulados de “Bin Ladens Tupiniquins”? O governador preferiu o silêncio como resposta.
Nos próximos Capítulos:
· O esquema de Agnelo Queiroz na ANVISA e as doações suspeitas da empresa fantasma M Brasil à sua campanha
· A Operação SHAOLIN, desencadeada pela Polícia Civil e seus personagens
· A vida de Agnelo Queiroz: de médico residente do PCdoB a governador do PT
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