terça-feira, 19 de julho de 2011

De médico residente do PCdoB a governador do PT

Agnelo Queiroz: maquiado
O governador Agnelo Queiroz sempre almejou ser o governador do Distrito Federal. Para chegar onde chegou, viveu uma  extensa história política, que depois virou obsessão. Por ter enfrentado muitos obstáculos no antigo caminho, resolveu trilhar um novo caminho ao lado de pessoas estranhas à sua trajetória de lutas. Talvez tenha planejado isso ainda no berço de sua juventude, quando era apenas um jovem médico residente, recém chegado da Bahia. Todavia, não imaginava enfrentar tantos obstáculos à sua frente.

No ano de 1985, trouxe na mala a esperança de dias melhores como os demais retirantes que chegam à capital brasileira. Chegou ao PCdoB do Distrito Federal com boas recomendações dos comunistas baianos. Sentiu-se em casa.

Agnelo: determinado
Já instalado no “aparelho” do partido, demonstrou ser um grande observador das fraquezas dos camaradas locais. Logo se pôs a organizar uma categoria de médicos residentes de Brasília. Tomou para si a luta desses profissionais por melhores condições de trabalho. Liderou greves e seguiu o caminho do movimento sindical, sendo o presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes. Em pouco tempo conquistou a confiança e a simpatia da fraca direção regional do PCdoB/DF. Agnelo sempre se comportou como um aguerrido e obediente militante partidário disposto a cumprir toda e qualquer tarefa que lhe confiavam. O fácil sorriso e os calorosos abraços se tornaram a sua marca.

Depois de uma fracassada campanha eleitoral em 1986 – as primeiras do Distrito Federal somente para deputado federal e senador – o PCdoB resolveu participar do pleio de 1990 com a sigla (antes o PCdoB lançou o jornalista Fernando Tolentino candidato a deputado federal legenda do PMDB) e ousou lançar o jovem médico Agnelo Queiroz a deputado distrital, tendo como companheiro de chapa Moacir de Oliveira Filho, o Moa, candidato a deputado federal.

Agnelo e José Messias:
camaradas de PCdoB
Eleito, Agnelo Queiroz passou a ser o orgulho dos comunistas. E não demorou muito para assumir o controle da legenda tornando o seu presidente regional. Nesse período, ocorreram consideráveis baixas de militantes do PCdoB. Agnelo não tinha o espírito de debater assuntos delicados ao mesmo tempo em que se esquivava dos inúmeros questionamentos de seus companheiros. Preferia impor a sua condição de mandatário e afastar qualquer possibilidade de rebeldia contra a política e a condução do partido. Quando o muro de Berlim veio abaixo, tentou, em vão, que os militantes acreditassem na minúscula Albânia ser ainda o celeiro do marxismo-leninista no mundo, mesmo sendo notória a fuga do povo daquele país, em navios, rumo à Itália.

Na Câmara Legislativa, passou a ter poder cada vez mais independente do partido. Caminhava com suas próprias pernas, porém sempre observado com desconfiança pelo sisudo Messias de Souza, hoje administrador de Brasília. A partir daí, uniu laços fortes com o seu hoje chefe de gabinete Cláudio Monteiro, também deputado distrital à época.

Min. Orlando Silva: uma pedra no
antigo caminho de Agnelo
Em 1994, foi eleito com facilidade para a Câmara Federal, se reelegendo por mais duas vezes, em 1998 e 2002. Em 2003, chegou ao cargo de ministro dos Esportes, como cota do PCdoB no ministério do presidente Lula. Levou consigo Cláudio Monteiro, que já tinha dado como sepultado o seu sonho de torna-se novamente deputado. A direção nacional do PCdoB por diversas vezes ficou contrariada com Agnelo à frente do Ministério. Sentia-se traída em não ter o controle total sobre o órgão. O controle, aliás, era todo de Agnelo, que nomeou o seu staf de amigos nos cargos mais importantes do Ministério. Orlando Silva, ex-presidente da UNE, aquele da tapioca, somente ocupou a secretaria-geral na Esplanada, após veladas ameaças da direção do partido em solicitar ao presidente Lula a troca de Agnelo. Tão logo Agnelo deixou o Ministério para candidatar-se a senador, em 2006, o PCdoB indicou Orlando Silva como o seu substituto, não permitindo mais o seu retorno, deixando-o sem cargo na administração federal.

Agnelo e Lula: padrinho forte, além do PCdoB
O presidente Lula só nomeia Agnelo para o cargo de diretor da ANVISA, em outubro de 2007, naturalmente sem o aval da direção nacional do PCdoB. A partir daí, Agnelo, animado com o resultado das urnas de 2006, quase aplicando uma derrota a Joaquim Roriz ao Senado Federal, inicia uma aproximação com o PT. No seu entendimento, apenas o PT seria capaz de levá-lo à vitória e em 2008 filia-se ao partido. Foi muito bem recebido e de braços abertos pelos anfitrões petistas Chico Vigilante, Erika Kokay e Paulo Tadeu. No entanto, Agnelo sabia que não seria fácil a disputa pela preferência dos militantes, pois teria pela frente um adversário de peso e com sede de vitória, o hoje deputado federal e secretário de Habitação Geraldo Magela.

Agnelo e Paulo Tadeu: aval para
ingressar no PT
Com o advento do escândalo da Caixa de Pandora em 2009, as chances de Agnelo aumentaram, já que não teria como adversário o até então imbatível José Roberto Arruda. Bastaria vencer o companheiro Magela nas prévias do PT e torcer para que a Lei da Ficha Limpa alcançasse o ex-governador Joaquim Roriz. Conseguiu derrotar Magela, mesmo sendo acusado de enriquecer sem justa causa. Aliou-se a Tadeu Filippelli, uma espécie de Robin de Roriz, e trouxe consigo para compor a chapa e o seu governo as viúvas rorizistas e os viúvos da Pandora.

Agnelo e Filippelli: o novo caminho
Com a renúncia de Roriz, o caminho para que Agnelo chegasse ao lugar que tanto sonhou estava pavimentado e sem maiores percalços. Nem mesmo a gagueira que lhe é peculiar não o impediu de chegar lá. Não tinha adversário à altura, levando-se em conta o fator de adesões políticas e o poder econômico, que conseguiu amealhar. Para se ter idéia do que significa isso, a sua campanha arrecadou mais de 10 milhões de reais em doações contra 1 milhão e meio de reais dos candidatos Joaquim Roriz e Weslian Roriz juntos. Só isso explica que a aposta do empresariado e de lobistas era mesmo no candidato vermelho. Boa parte dos recursos veio de doações de empresas ligadas ao setor farmacêutico, que sempre mantiveram interesse nas decisões da ANVISA, como a UNIÃO QUÍMICA, doadora de 200 mil reais à sua campanha e empregadora de DANIEL ALMEIDA TAVARES, o mala da mala.

A mansão de Agnelo: extravagância
milionária para um ex-comunista
Para os militantes do PCdoB, Agnelo Queiroz sempre levou uma vida simples, quase que franciscana. Era discreto e muito familiar. Morava num pequeno apartamento na 404 sul, juntamente com a sua esposa Ilza Queiroz e seus dois filhos Fernanda e Guilherme. Muitos reagiram com sobressalto, quando a revista Época, em 2010, no calor da disputa petista, divulgou que o ex-comunista agora possuía uma mansão no Setor de Mansões Dom Bosco, avaliada em milhões de reais, com direito a uma ampla piscina e uma quadra poliesportiva. Pelo visto, o médico residente chegou lá, atropelando adversários e adversidades que encontra pela frente...

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